segunda-feira, 2 de julho de 2012

Eugenia por Monteiro Lobato


Ao deixar de olhar somente para o agora e olhar para o passado, podemos ver o quão horrível e estupida a humanidade pode ser, e o quanto esta estupidez afeta nosso presente.
Onde entra Monteiro Lobato nisto?? Calma ai que chegaremos lá...
Em 1883, surgia na França, através das ideias de Francis Galton, Antropologo e primo de Charles Darwin, a palavra eugenia. significado: "bem nascido". Galton definiu eugenia como o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente. Em outras palavras, melhoramento genético. Como várias coisas absurdas, a eugenia virou febre em toda Europa e foi extremamente forte nos EUA até a década de 30 para 40 (quase 60 anos sobre essa ideia!!).
O Brasil, sendo um país "europeutizado", não podia deixar de abraçar essa ideia com toda amor e carinho. É claro, que colocar uma ideia européia no Brasil foi uma loucura, pois vivíamos um período em que a escravidão acabara de ser abolida, e tínhamos vários negros libertos, sem ter onde ir e o que comer.
Quando digo: Eugenia significa em si "bem nascido", no Brasil significava, bem nascido = brancos, inteligentes. Ou seja, estávamos com uma a população negra gigantesca liberta, sem ter como viver, e invés de dar apoio, eles, os mal nascidos, deveriam deixar de existir. Os barcos negreiros foram barrados de entrar no país, sendo eles afundados se visto em alto mar, para não entrar as pessoas feias e mal nascidas no Brasil e começou a migração europeia, de alemães, italianos, e suiços tendo eles direitos a terra, e apoio financeiro do governo, tudo isso para embranquecer o Brasil cheio de "feiura" que tínhamos. Negros não tinham direitos a trabalho, mulheres negras eram operadas a força para não ter mais filhos, e pardos (significado da palavra: branco sujo) eram obrigados a casar com branco, para embranquecer nosso país. Até que tudo isso deu certo. Em 1940, no fim da eugenia, a população denominada negra permaneceu nos 15%, porém a denominada branca passou de 38% em 1872 para 63% em 1940 (+25%), e a parda de 40% em 1872 para 21% em 1940 (-19%).
Quem liderou a Eugenia no Brasil, a fundou como ciência, foi o psiquiatra Renato Kehl, e tinha como um de seus maiores devotos Monteiro Lobato.
Em 1917 Renato Kehl definiu a Eugenia:  "É a ciência da boa geração. Ela não visa, como parecerá a muitos, unicamente proteger a humanidade do cogumelar de gentes feias". 
Em 1918 Monteiro lobato mandou a seguinte mensagem para Renato Kehl: "Confesso-me envergonhado por só agora travar conhecimento com um espírito tão brilhante quanto o seu, voltado para tão nobres ideais e servido, na expressão do pensamento, por um estilo verdadeiramente "eugênico", pela clareza, equilíbrio e rigor vernacular." Que mensagem mais gay!!
Enfim, eugenista do jeito que era, e participante da sociedade eugênica no Brasil, Monteiro Lobato expressou a sua aversão a negros, pobre, nordestinos e todos as pessoas consideradas mal nascida, como em um trecho do livro "Caçadas de Pedrinho" em que Emilia diz: "É guerra, e guerra das boas. Não vai escapar ninguém - nem Tia Nastácia, que tem carne negra", e nessa mesma obra a personagem Emilia refere-se a Tia Nastácia como "uma macaca de carvão". Uma outra obra preconceituosa de Monteiro Lobato, dessa vez referida aos nordestinos caipiras, é o Jeca Tatu, que era caracterizado por ser um caboclo irremediavelmente preguiçoso, "um parasita, um piolho da terra", como descrito em sua primeira fase. Na segunda fase, Jeca Tatu retorna como Jeca Tatuzinho, e Monteiro Lobato enfatiza, o estado precário de saúde pública brasileira que ele tinha acesso, o que serviu também de denuncia ao Governo. Em uma propaganda do Biotônico Fontoura, Monteiro Lobato aparece desculpando Jeca Tatu por sua baixa produtividade pelo desânimo, anemia e verminoses que o atacavam, como imagem abaixo:

Após todas essas denuncias, me oponho a  defender Monteiro. Ele foi um homem que viveu sua época, época de preconceito, discriminação, em que o feio era ser diferente do branco europeu, e apesar de todo o seu preconceito e eugenia, conseguiu encantar crianças, e as encantam até hoje. Talvez por suas obras serem marcadas de encanto e fantasia onde bonecas falam, sabugos de milho tem vida e são divertidos, apresentando várias mitologias gregas à criançada, deixando assim o preconceito como desapercebido diante de tanto encanto. E apesar de cooperar com a eugenia, que nos deixa marcas até hoje, como a grande pobreza e criminalidade entre os negros, pois na época eles não podiam trabalhar e não tinham direito a nada, sendo assim excluídos da sociedade, Monteiro Lobato foi um dos escritores mais talentosos da sua época que deixou livros de altíssimo nível literário (apesar dos preconceitos camuflados) que podem ser lidos até hoje. A quem diga, que as alusões racistas a Tia Nastácia, não tira o prazer da leitura, e que a apresenta de forma positiva em sua obra.

Depois de tudo isso, cabe a cada um formar a sua opinião. Monteiro Lobato, o bom e encantado escritor, ou o perverso preconceituoso??
Eu tenho a minha, mas é claro que não vou contar!!! 

Até a próxima!!